quarta-feira, 30 de março de 2011

MARIELA FALA FRANCÊS PELA PRIMEIRA VEZ

Acordou muito cedo. Extremamente cedo para seus padrões notívagos!
Não quís sair para jantar na noite anterior, porque estava muito frio.
Extremamente frio no mês de fevereiro em Paris. Praticamente nevando!
O queijo que comprou na fromagerie ao lado, para surpreender Fabian, ainda infestava o quarto de hotel.
Mariela comprou um queijo macio e cremoso, mas não imaginava que o mesmo pudesse exalar aromas tão fétidos.
Fabian não conseguiu comer, mas ela ainda provou um pedaço no meio de um baguete e alguns goles de vinho!
Ah, os vinhos na França são um deleite para a alma! os queijos também, aliás, os franceses têm o hábito de fazer tudo muito bem), mas é preciso adaptar o paladar ou
comprar os mais suaves de início.
Educar o paladar leva tempo e dedicação.
Mariela embrulhou o queijo em várias camadas de papel, depois enrolou em várias sacolas plásticas, amarrou bem e colocou dentro da lixeira que estava embaixo da pia do banheiro.
Na manhã seguinte não suportava o cheiro que emanava do banheiro.
Chovia um pouco e estava bastante frio.
Wellcome Hotel, na rue de Seine, esquina com o Boulevard Saint Germain, em Saint Germain Des Prés.
Apesar da excelente localização o quarto do famoso hotel era muito pequeno.
(Como a maioria dos quartos de hotel de Paris, principalmente nos bairros mais cobiçados).
As paredes cobertas com papel de parede em tons de azul marmorizado.
Era tudo em tons de azul degradê, com cortinas floridas.
Era charmoso e evocava a Belle Époque.
Mas Paris é para desfrutar, não ficar limitada a quartos de hotel ou aos minúsculos apartamentos) As salas de visita dos Parisienses, são os cafés.
A fome e a vontade de tomar um café, (a padaria Paul fica na mesma rua, na esquina com a rue de Buci).
Mariela adora os baguetes e o milefeule com doce de leite(mil folhas) da Paul,que são deliciosos e crocantes!
Desceu as escadas do centenário edifício, para fazer algum exercício(como de costume), e também não utilizar o minúsculo,(claustrofóbico) elevador de madeira com porta de correr.
Faltava dez minutos para as seis da manhã e a copeira ainda não havia chegado.
Mariela sentou-se numa poltrona de madeira no salão de café e ficou observando Paris da janela.
Tinha uma mesa grande em madeira, quadros e tapetes ornamentavam o ambiente típico parisiense.
A copeira chegou, mas saiu novamente para buscar os pães.
Na manhã chuvosa Mariela estava a contemplar a vida.
Celebrava alí algumas memórias dos livros da Danusa, que é habitué deste hotel.
No edifício em frente, moram muitas pessoas e Mariela as acompanhava quando chegavam do trabalho no final da tarde, ascendiam as luzes, e prostravam-se silenciosos e solitários em seus nobres apartamentos.
Abriam e fechavam as janelas na tentativa de tomar ar puro.
O ar gelado lhes impedia de respirar.
Mariela observava também a montagem da feira de rua que acontece no bairro algumas vezes na semana.
Futas, legumes, carnes e frutos do mar muito frescos abastecem o bairro.
Dá uma enorme vontade de cozinhar com aqueles tomates frescos, ainda com os cabinhos verdes adornando o vermelho rubro que contrastava com os alho-porós, verdinhos e brilhantes!! um deleite para os olhos.
Mariela pensou: - na próxima vez que vier a Paris, vou alugar um apartamento e fazer um curso de culinária francesa.
Fabian adora quando Mariela cozinha. Come loucamente!
Embora comente que Mariela faz bem um bom feijão com arroz!
Mariela não se ofende, porque acha que quem sabe fazer um bom feijão com arroz e ovo frito, já sabe tudo de cozinha. eheheh!
Mariela enfrenta a vida com humor.
Um certo bom humor inglês, agora numa mescla de francês.
Uma certa arrogância, lhe é nata! mas aprendeu que a (suposta) arrogância dos franceses, muitas vezes é mais para testá-la. Portanto, se você for muitíssimo educado e paciente e passar no teste, será benvindo e com um pouco de sorte, poderá escolher seu lugar ao sol!!!!ehehhe, e ou, num dos inúmeros cafés e bistrôs Parisienses.
Comer é um ritual de magia na França.
Comer bem faz parte da tradição cultural dos franceses.
Mariela adora pesquisar hábitos e costumes da espécie humana.
Admirar os hábitos dos franceses fazem Mariela pensar no quanto de auto estima há nas pessoas que se tratam bem!
A grande maioria das pessoas do mundo se alimenta mecanicamente.
Na frança parece ser diferente!
Observar as pessoas nos cafés durante horas e horas, acompanhadas de amigos ou de seus educadíssimos cães, faz parte da rotina dos franceses.
Chegou o delicioso café às seis e meia da manhã! o tempo passou depressa entre devaneios e sonhos sobre a vida daquele lugar.
Era quase realidade estar em Paris!alí sozinha, enquanto Fabian dormia.
O café foi servido na grande mesa de jantar!
Ela estava só naquele momento, mas não solitária!
O aroma de café ao leite, os croissants,o baguete crocante com menteiga e geléia, o queijo brie macio e cremoso seduziam o ambiente como um grande espetáculo matinal.
Mariela sempre soube que Deus era brasileiro, mas que jantava na França.
Agora, supõe, que ele também tome café da manhã por lá!ehehehe!
Foram momentos de muita alegria, paz e felicidade.
De realização e de sonhos!
Terminou o café e desceu as escadas em direção ao hall de entrada do hotel, passando a porta, na qual a copeira estava encostada observando o tempo.
Estende os braços e o nariz para fora checando a temperatura e a chuva.
A copeira Martine, (na França todas as mulheres se chamam Martine, inclusive a dona do hotel SAINT JACQUES, primeiro hotel em que Mariela se hospedou em Paris).
Martine a olha e comenta: - C'est fini!
Naquele instante, as duas falaram a mesma lingua!
Na infância, no interior, Mariela utilizava esta expressão para dizer que algo acabou!!! e era em francês mesmo!!!!
- Eu entendo francês, meditou Mariela! emocionada!
-Au REVOIR!!!
E saiu saltitante na fria Saint Germain, sem sentir mais nada!
A chuva c'est fini, o mistral reinava no boulevard, era só dobrar a direita, mais alguns passos e logo estava na catedral de Saint Germain!
Uma das mais antigas de Paris!
Mariela deve estar por lá ainda agora , rezando.
Caminhando saltitante no Champs Elysées, lendo um livro sentada em um dos bancos do jardim de Luxemburgo, tomando um café au lé no Café de Flore, com Fabian provavelmente a seu lado, observando seu olhar, seus movimentos, a admirando.
E eu, aqui no Brasil, vou fazer um café pra mim!
Tem café de Minas, manteiga e geléia!
Só vai faltar o baguete!
Au revoir!


Martina Knoll
30/03/2011

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